ISSN: 2695-2785

Volume 2, No 3 (), pp. -

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Dirección Xeral de Saúde Pública Galicia

Canábis

Abstract: Resumo A canábis é a substância psicoativa ilegal mais consumida entre os jovens. Um início precoce do consumo está associado a problemas de desempenho escolar e abandono escolar precoce, além de a uma maior presença na idade adulta de distúrbios mentais (ansiedade, depressão, psicose). Quanto mais cedo se começa a consumir e mais frequente é o consumo, maior é o risco.

Keywords: canábis; epidemiologia; intervenção

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem sido dada uma maior importância às possíveis implicações do consumo de canábis para a saúde pública, devido a várias razões, entre elas, a extensão do seu consumo entre a população espanhola e europeia em geral, o aumento da procura de tratamento para a dependência e o aumento de patologias associadas ao seu uso.

A planta da canábis contém mais de 421 compostos químicos, dos quais 61 são canabinoides. O D9-THC é o que possui maior capacidade psicoativa e o que mais contribui para a toxicidade da canábis.

O início do consumo de canábis começa antes dos 15 anos, é mais frequente em homens, os quais apresentam uma maior prevalência de consumos combinados (álcool e tabaco).

A iniciação do consumo tem a ver com muitos fatores, um aspeto fundamental é a “pressão de grupo”, à qual se deve acrescentar a baixa perceção de risco de que este consumo existe entre os mais jovens, o que implica uma normalização do consumo nestes grupos etários.

A acessibilidade ao produto (embora se trate de uma substância psicoativa ilegal) faz com que na atualidade estejamos a começar a encontrar uma maior incidência de consumo na população mais jovem.

DADOS EPIDEMIÓLOGOS

A canábis continua a ser a substância psicoativa ilegal mais usada na Europa, em todas as faixas etárias (Informe Europeo sobre Drogas Tendencias y novedades, 2018) .

Esta substância psicoativa costuma ser fumada e, na Europa, é frequentemente misturada com tabaco. Os padrões de consumo de canábis podem variar de consumo ocasional a consumo regular e dependente. A maioria das pessoas que consomem canábis são consumidores experimentais ou ocasionais. No entanto, numa proporção considerável de casos, o padrão de consumo desta substância aumenta o risco de sofrer efeitos que afetam a própria saúde, ter pior desempenho académico e profissional e/ou desenvolver dependência.

Estima-se que 26,3% dos adultos europeus (15 a 64 anos) tenham consumido canábis em algum momento das suas vidas. Destes, cerca de 14,1% dos jovens adultos (15 a 34 anos) consumiram canábis no último ano, dos quais 17,4% entre 15 e 24 anos. Entre os que consumiram esta substância psicoativa durante o último ano, a proporção de homens e mulheres foi de dois para um.

Os resultados do inquérito mais recente revelam que, na maioria dos países, o consumo de canábis permaneceu estável ou aumentou em adultos jovens durante o último ano.

De acordo com o Inquérito sobre o uso de drogas no Ensino Secundário em Espanha (Ministerio de Sanidad Consumo y Bienestar Social, 2016) , o consumo de canábis está um pouco mais difundido entre os homens: 15,2% do grupos dos de 14 anos de idade consumiram canábis em algum momento (em comparação com 12,6% das mulheres), proporção que aumenta progressivamente com a idade, tendo-se constatado que no grupo dos de 18 anos de idade, 1 em cada 2 jovens (56,3%) já a consumiu em alguma ocasião (em comparação com 54,7% no caso das mulheres). Os consumidores de canábis também registam uma maior prevalência de consumo de álcool e tabaco.

EFEITOS NO ORGANISMO

As suas formas de consumo podem ser: por inalação - misturada com tabaco, vaporizada, cachimbos ou utilizando o cigarro eletrónico; por via oral - biscoitos/bolos, etc.

Os efeitos no organismo são produzidos pela ativação de recetores canabinoides específicos - o recetor CB1, que se encontra abundantemente no SNS, o recetor CB2 que se expressa principalmente nas células do sistema imunológico. A ativação destes recetores inibe a libertação de neurotransmissores a partir dos terminais axonais.

O consumo de canábis, em geral, produz efeitos de tipo depressor, euforia leve e distúrbios na perceção (distorção da perceção do tempo, intensificação de experiências sensoriais comuns). Também pode causar ansiedade, pânico, paranoia e psicose, depressão ou inibição da capacidade motora, bem como relaxamento muscular.

Estas reações dependem da dose.

Imediatamente após o consumo, ocorre o que se chama “embriaguez canábica", com boca seca, olhos vermelhos, taquicardia, movimentos descoordenados, riso descontrolado, sonolência, alteração da memória, da atenção e da concentração.

ABORDAGEM DA CANÁBIS

É importante fazer uma deteção precoce do consumo de canábis, a fim de intervir o mais rápido possível na pessoa e no seu ambiente familiar, e para lhe proporcionar cuidados personalizados. A equipa de pediatria, ao detetar “sinais de alerta”, deve informar os progenitores.

Suspeita de consumo. Sintomas de alarme:

  • Mudança de comportamento, humor.

  • Negligência na higiene pessoal.

  • Deterioração das relações familiares e do ambiente que rodeia os jovens.

  • Baixo desempenho escolar.

  • Absentismo escolar.

No caso de se detetar o consumo de canábis, deve fazer-se uma breve intervenção. Se este consumo for problemático, o menor precisará de intervenção intensiva; neste caso, considerar-se-á o encaminhamento para uma unidade especializada.

Mitos relacionados com a canábis

Como no caso do tabaco, existem falsas crenças que se foram enraizando na sociedade em relação a este consumo e que devem ser esclarecidas pelos profissionais.

Muitos dos mitos ou falsas verdades que circulam sobre a canábis estão relacionados com a sua inocuidade, baixo risco para a saúde por ser um “produto natural” ou a sua utilidade terapêutica.

Esta confusão gerada sobre o seu consumo, e que afeta a população mais vulnerável, faz com que seja necessário que um profissional de saúde forneça informações corretas à população; só desta forma podemos desmantelar estas falsas crenças.

FERRAMENTAS DIAGNÓSTICAS

Existem ferramentas úteis para detetar doentes de risco no consumo de canábis nos cuidados de saúde primários.

Existem várias escalas para avaliar o consumo de canábis. A escala CAST (Cuenca-Royo et al., 2012) é um questionário simples de 6 perguntas, desenvolvido em França com o objetivo de detetar consumos problemáticos. Desde o seu desenvolvimento, esta escala tem sido amplamente utilizada tanto na população em geral como na população adolescente em vários países e demonstrou ser adequada para este fim.

O seu uso nos cuidados primários permite detetar os jovens que podem estar em risco de desenvolver um distúrbio por consumo de canábis, para além de orientar o diagnóstico e poder encaminhá-los para programas de tratamento específicos.

Tabela 1. CAST. Cannabis Abuse Screening Test

Tabela 1. CAST. Cannabis Abuse Screening Test

CAST. Cannabis Abuse Screening Test
  1. Já fumou canábis antes do meio-dia?

  2. Já fumou canábis sozinho?

  3. Já teve problemas de memória enquanto fumava canábis?

  4. Amigos ou familiares já lhe disseram que deveria reduzir o consumo de canábis?

  5. Já tentou reduzir ou deixar o consumo de canábis sem êxito?

  6. Já teve problemas devido ao uso de canábis (discussão, briga, acidente, mau desempenho escolar ou laboral? Quais?

Opções de resposta: Nunca // Raramente // Às vezes // Com alguma frequência // Com muita frequência.

Resultados:

  • CAST :< 4 Consumidores não problemáticos.

  • CAST ≥ 4 Consumidores problemáticos.

Figura Figura 1 Esquema de Intervenção de acordó com o CAST

Figura 1 Esquema de Intervenção de acordó com o CAST

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Fonte: (Legleye, Karila, Beck, & Reynaud, 2007)

Tradução Tabela 2. Espanhol – Português Figura 1. Esquema de Intervenção de acordó com o CAST

Tabela 2. Espanhol – Português Figura 1. Esquema de Intervenção de acordó com o CAST

Espanhol Português
Screening Triagem
Ningún riesgo o bajo riesgo Nenhum risco ou baixo risco
Riesgo moderado Risco moderado
Riesgo moderado-alto Risco moderado-alto
Riesgo grave o dependencia Risco grave ou dependência
Reforzar su conducta Reforçar o seu comportamento
Intervención breve Intervenção breve
Breve tratamiento Breve tratamento
Derivación a tratamiento específico Encaminhamento para tratamento específico

A intervenção numa pessoa menor será diferente se:

  • Os progenitores tiverem conhecimento do consumo: será solicitado o consentimento do menor para que participem nas intervenções.

  • Os progenitores não tiverem conhecimento do consumo: a idade do doente e o grau de risco detetado na triagem serão tidos em consideração antes de incorporar os progenitores no seguimento.

Ações diferentes

  1. Sem risco. Destacar os aspetos benéficos, reforçando as decisões positivas e saudáveis.

  2. Consumidores não problemáticos. Dar um breve conselho:

    • Aconselho-te a que não o voltes a fazer. O teu cérebro ainda está em desenvolvendo e consumir canábis ou outra substância psicoativa pode afetar o desenvolvimento adequado do teu cérebro.

    • O consumo de canábis pode interferir na tua tomada de decisões, fazendo com que ajas de forma inadequada.

  3. Consumidores problemáticos. É necessária uma intervenção mais intensiva. Estabelecer um plano de ação com o consumidor, que inclua objetivos individualizados e personalizados:

    • Acordar uma abstinência durante um certo período de tempo (4-8 semanas), para o consciencializar da gravidade do seu problema.

    • Estabelecer estratégias para evitar o consumo.

    • Realizar um seguimento, reforçando os êxitos alcançados.

Se estes objetivos não forem alcançados, encaminhar para a unidade especializada.

RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A CONSULTA DE PEDIATRIA

A equipa de pediatria deve enfatizar os seguintes pontos:

  1. A canábis gera dependência.

  2. O consumo de canábis está muito relacionado com outro consumo (álcool e/ou tabaco).

  3. O THC (tetrahidrocanabinol) é o principal ingrediente ativo da canábis e é uma substância muito solúvel em gordura que chega rapidamente ao cérebro, onde se acumula e é eliminada muito lentamente. Tem uma vida média longa, os consumos de fim de semana acumulam-se, uma vez que uma semana depois do consumo, o corpo não conseguiu eliminar mais de 50%.

    Mesmo que uma pessoa consuma apenas nos fins de semana, não haverá tempo suficiente para que se elimine completamente e irá acumulando-se no cérebro, produzindo vários dos seus efeitos.

  4. O consumo de canábis está associado a um desempenho inferior e a fracasso escolar. Os efeitos negativos deste consumo sobre a atenção, a motivação, a memória e a aprendizagem podem durar dias e até semanas após o desaparecimento dos efeitos imediatos.

  5. Como a maioria das substâncias psicoativas, o consumo de canábis pode diminuir a capacidade de tomada de decisões, o que pode levar a uma maior probabilidade de se envolver em comportamentos de risco.

  6. É necessário estar atento ao aparecimento de sintomas de intoxicação acidental por canábis em crianças previamente saudáveis, que apresentem sintomas neurológicos de início agudo e causa desconhecida. É útil, para fazer um diagnóstico diferencial com outros processos, como hipoglicemia, infeções do SNC, etc., solicitar uma análise toxicológica da urina, que confirme a exposição aguda à canábis.

  7. O consumo de canábis durante a amamentação é um fator de risco para morte súbita do bebé e tem sido associado a um atraso no desenvolvimento motor no primeiro ano de vida. A natureza lipossolúvel faz com que o THC se acumule no leite materno até 8 vezes mais do que na mãe. 

Reconhecimento

Esta publicação foi possível graças ao programa de cooperação Interreg VA Espanha-Portugal POCTEP - RISCAR 2014-2020.

http://www.poctep.eu

RINSAD

A Revista Infância e Saúde (RINSAD), ISSN: 2695-2785, surge da colaboração entre as administrações de Portugal, Galiza, Castela e Leão, Extremadura e Andaluzia no âmbito do projecto proyecto   Interreg Espanha-Portugal RISCAR  e visa divulgar artigos científicos relacionados com a saúde infantil, contribuindo para pesquisadores e profissionais da área uma base científica onde conhecer os avanços em seus respectivos campos.

O projeto RISCAR é cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa Interreg V-A Espanha-Portugal (POCTEP) 2014-2020, com um orçamento total de € 649.699.

Revista produzida pelo projecto Interreg Espanha - Portugal RISCAR  com a Universidad de Cádiz  e o Departamento Enfermería y Fisioterapia del Universidad de Cádiz .

Os trabalhos publicados na revista RINSAD são licenciados sob a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.

References