Abstract: ResumoA epidemia do VIH / da SIDA é um problema de saúde pública a nível mundial. Os principais organismos internacionais que coordenam a luta contra o VIH / a SIDA formaram o propósito de acabar com a epidemia de SIDA em 2030 e, para esse efeito, é preciso alcançar os objetivos da Estratégia 90-90-90. Neste artigo, explica-se em que consiste esta estratégia e mencionam-se intervenções a nível da assistência alinhadas com esta estratégia.
Keywords: VIH; SIDA; estratégia 90-90-90
O VIH é o vírus da imunodeficiência humana. Este vírus provoca uma destruição progressiva do sistema imunitário que, na ausência de tratamento, causa a morte. Por outro lado, a SIDA é a síndrome da imunodeficiência adquirida. Corresponde à última fase da história natural da infeção pelo VIH.
O VIH é transmitido principalmente por:
Relações sexuais sem preservativo
Partilhar material de injeção de drogas
De mãe para filho durante a gravidez, parto ou amamentação
Também pode ser transmitido através de transfusões de sangue ou fatores de coagulação infetados, embora esta seja uma via excecional devido às análises de rotina a que o sangue é submetido para detetar anticorpos contra o VIH (European Centre for Disease Prevention and Control, 2019).
A epidemia do VIH / da SIDA é um problema de saúde pública a nível mundial desde que foram descobertos a finais do século XX. Os primeiros casos de SIDA foram diagnosticados pelo Dr. Michael Gottlieb em São Francisco (EUA), em 1981. Desde então, a incidência anual da SIDA foi aumentando tendo alcançado o seu ponto máximo em 1997, ano em que foram declarados quase 3 milhões de casos. Felizmente, graças ao surgimento da terapia altamente eficaz com antirretrovirais (TARV), a incidência de infeção pelo VIH foi reduzida em 40% até ao dia de hoje (1,7 milhões em 2018) (ONUSIDA, 2019b)
Nos finais de 2013, o Programa Conjunto sobre o VIH / a SIDA da Organização das Nações Unidas (ONUSIDA) formou o propósito de procurar os apoios nacionais e internacionais necessários para atualizar os objetivos de tratamento do VIH depois de 2015. Enquanto os objetivos anteriores buscavam um aumento gradual da resposta, a meta depois de 2015 é nada menos que o fim da epidemia de SIDA até 2030 (ONUSIDA, 2019a).
Para esse efeito, a ONUSIDA declara que é preciso alcançar os objetivos dos três “90” até ao ano de 2020 (ONUSIDA, 2019a). Estes objetivos são:
1.º Que 90% das pessoas infetadas pelo VIH conheçam o seu estado serológico em relação ao VIH.
2.º Que 90% das pessoas diagnosticadas com infeção pelo VIH recebam terapia antirretroviral contínua.
3.º Que 90% das pessoas que recebem terapia antirretroviral tenham supressão viral (carga viral plasmática (CVP) <50 cópias do VIH/mL).
Segundo o ONUSIDA, na Europa Ocidental, 88% das novas infeções pelo VIH ocorrem em populações-chave e nos seus parceiros sexuais. O risco de contrair o VIH nestas populações é:
22 vezes maior entre homens que fazem sexo com homens
22 vezes maior entre as pessoas que injetam drogas
21 vezes maior para profissionais do sexo
12 vezes maior para pessoas transgénero (ONUSIDA, 2019b)
A Europa está a caminho de acabar com a SIDA até 2030? Os resultados de 2018 dos objetivos 90-90-90 são de 86%-91%-92% na UE / EEE (European Centre for Disease Prevention and Control, 2018).
Os dados de cumprimento dos três “90” em Portugal e Espanha são apresentados na tabela a seguir (Tabela 1. Contínuo de cuidados em Portugal e Espanha, 2018.)
90% diagnosticados | 90% tratados | 90% supresión viral | |
---|---|---|---|
Portugal | 92 % | 87 % | 90 % |
España | 82 % | 97 % | 88 % |
Fonte: Adaptado de European Centre for Disease Prevention and Control, WHO Regional Office for Europe. HIV/AIDS surveillance in Europe 2018 – 2017 data.
Elaboração: Dirección General de Salud Pública. Consejería de Sanidad de Galicia, España.
O ONUSIDA estima que ao alcançar os três “90”, 73% das pessoas infetadas pelo VIH alcançarão carga viral suprimida (CVS). De acordo com os últimos dados disponíveis, nem Portugal nem Espanha alcançaram este limiar; no entanto, estão acima da média regional (43%), com 72% e 71%, respetivamente (European Centre for Disease Prevention and Control, 2018).
Para alcançar os objetivos da Estratégia 90-90-90, é necessário manter algumas atividades de assistência que já estavam a ser realizadas e incorporar outras novas. A seguir, são apresentadas algumas recomendações das sociedades científicas para a prática assistencial nos cuidados primários, maternos e pediátricos que se enquadram na linha de ação da Estratégia 90-90-90.
Primeiro 90: Que 90% das pessoas infetadas pelo VIH conheçam o seu estado serológico em relação ao VIH.
Nos Cuidados Primários, recomenda-se realizar o teste de VIH a qualquer pessoa que o solicitar e propor a sua realização nas seguintes circunstâncias (Ministerio de Sanidad Servicios Sociales e Igualdad y Plan Nacional sobre Sida, 2014):
A pessoa apresenta critérios compatíveis com infeção por VIH ou SIDA.
Proposta de rotina: aos reclusos em prisões, às mulheres grávidas e às pessoas da população em geral entre 18 e 59 anos de idade que cumpram determinados critérios, incluindo nunca terem feito um teste do VIH.
Proposta direcionada: a pessoas que apresentam situações de risco (ser provenientes de países com alta prevalência, etc.) ou práticas de risco (sexo entre homens sem preservativo, etc.).
Realização obrigatória: em caso de doação de tecidos e órgãos e também na realização de técnicas de reprodução humana assistida.
Às pessoas que mantêm práticas de risco deve propor-se a realização do teste do VIH pelo menos uma vez por ano (Ministerio de Sanidad Servicios Sociales e Igualdad y Plan Nacional sobre Sida, 2014).
Segundo 90: Que 90% das pessoas diagnosticadas com infeção pelo VIH recebam terapia antirretroviral contínua.
Perante uma sorologia positiva do VIH, é necessário encaminhar imediatamente a pessoa para um serviço especializado em infeção pelo VIH. O tratamento antirretroviral (TARV) deve ser iniciado o mais cedo possível, uma vez confirmado o diagnóstico (A-III) (Panel de Expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
A administração do TARV é recomendada para todos os doentes com infeção pelo VIH para evitar a progressão da doença, reduzir a transmissão do vírus e limitar o efeito nocivo sobre possíveis morbilidades coexistentes (A-I) (Panel de expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
Terceiro 90: Que 90% das pessoas que recebem terapia antirretroviral tenha supressão viral.
A CVP deve ser determinada antes do início da TARV e, periodicamente durante o tratamento, para confirmar e monitorizar a supressão virológica (A-II) (Panel de expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
O objetivo da supressão virológica deve ser uma CVP <50 cópias do VIH/mL (A-II) (Panel de expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
Primeiro 90: Que 90% das mulheres infetadas pelo VIH conheçam o seu estado serológico em relação ao VIH.
É obrigatório facultar a todas as mulheres grávidas a informação adequada e a realização da sorologia para o VIH (SPNS GeSIDA SEGO y SEIP, 2018).
A identificação, antes da gravidez ou durante as primeiras semanas de gravidez, de mulheres infetadas pelo VIH é essencial para a realização de um tratamento ideal para evitar a transmissão vertical do VIH (Panel de expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
A mulher com práticas de risco para a infeção pelo VIH durante a gravidez, principalmente se o parceiro estiver infetado, será testada novamente pelo menos uma vez a cada trimestre (SPNS GeSIDA SEGO y SEIP, 2018).
Segundo 90: Que 90% das mulheres diagnosticadas com infeção pelo VIH recebam terapia antirretroviral contínua.
A gestação é sempre uma indicação absoluta para receber o tratamento antirretroviral (SPNS GeSIDA SEGO y SEIP, 2018).
Todas as mulheres grávidas infetadas devem ser aconselhadas em relação à necessidade de realizar tratamento antirretroviral para a infeção, prevenção da transmissão e possível efeito dos antirretrovirais no feto e no recém-nascido (Panel de Expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
Terceiro 90: Que 90% das mulheres que recebem terapia antirretroviral tenha supressão viral.
Durante as consultas pré-natais, o nível de linfócitos CD4 e a CVP das mulheres grávidas infetadas pelo VIH deve ser monitorizado (SPNS GeSIDA SEGO y SEIP, 2018).
Primeiro 90: Que 90% das crianças que vivem com o VIH conheçam o seu estado serológico em relação ao VIH.
Nos filhos de mulheres infetadas pelo VIH, recomenda-se determinar o ARN e/ou o ADN viral nas primeiras 48 horas de vida (sem usar sangue do cordão umbilical) (B-I), repeti-lo duas semanas após a suspensão da profilaxia antirretroviral e após 3 a 4 meses (A-II) (SPNS GeSIDA SEGO y SEIP, 2018).
Para o diagnóstico de infeção pelo HIV em crianças menores de 18 meses com exposição perinatal ou pós-natal, devem ser utilizados ensaios virológicos para deteção ou quantificação de ARN ou ADN viral. Não se deve usar a deteção de anticorpos (AII) (Panel de Expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
Segundo 90: Que 90% das crianças diagnosticadas com infeção pelo VIH recebam terapia antirretroviral contínua.
Recomenda-se tratamento muito precoce na criança infetada por transmissão vertical, não apenas pelo benefício clínico, mas também pela diminuição do reservatório viral (Panel de Expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
Terceiro 90: Que 90% das crianças que recebem terapia antirretroviral tenha supressão viral.
O objetivo da TARV é alcançar a supressão viral nas primeiras 24 semanas após o início do tratamento (A-II) (Panel de Expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
Recomenda-se consultar um especialista em infeção pediátrica pelo VIH se houver suspeita de falência virológica, se uma falha de adesão (B-III) tiver sido descartada anteriormente (Panel de Expertos de Gesida y Plan Nacional sobre el Sida, 2019).
Esta publicación ha sido posible gracias al programa de cooperación Interreg VA España-Portugal POCTEP - RISCAR 2014-2020.
A Revista Infância e Saúde (RINSAD), ISSN: 2695-2785, surge da colaboração entre as administrações de Portugal, Galiza, Castela e Leão, Extremadura e Andaluzia no âmbito do projeto Interreg Espanha-Portugal RISCAR e visa divulgar artigos científicos relacionados com a saúde infantil, de forma a proporcionar aos investigadores e profissionais da área uma base científica onde conhecer os avanços nos seus respetivos campos.
O projeto RISCAR é cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa Interreg V-A Espanha-Portugal (POCTEP) 2014-2020, com um orçamento total de 649.699 euros.
Revista fruto do projeto Interreg Espanha - Portugal RISCAR com a Universidade de Cádis e o Departamento de Enfermagem e Fisioterapia da Universidade de Cádis .
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